IpseDixit wrote:Hoje quero falar de um ciclo de livros do qual gosto muito: o ciclo de Terramar de Ursula K. Le Guin. É um ciclo fantasyde fantasia colocado situado no arquipélago imaginário de Terramar. Neste arquipélago umas pessoas têm poderes mágicos, mas precisam de anos de ensinos para conseguir os dominá-los e então tornar-se magos verdadeiros. O protagonista da história é o Ged, o filho dum pastor de Gont, a qual que é uma ilha do Norte. O Ged é órfão de mãe, e passa uma boa parte da sua infância com uma tia que é uma bruxa "do campo" (isto é como são chamadas as bruxas que não recebem uma educação mágica formal, mas só empírica). O primeiro contato do Ged com a magia acontece quando ouve a sua tia recitar uma fórmula mágica às ovelhas para as fazer aproximar-se dela. O Ged, curioso, tenta recitar a mesma fórmula e consegue em isso, e desde ali, começa toda a sua aventura que o trazerá levará a ser um dos magos mais poderosos e sábios do que de sempre. Todavia não quería falar da trama (também por que o ciclo é longo 1500 páginas) mais do que gosto deste ciclo.
Acho que a Le Guin sejaé uma escritora muito talentosa e muito embora este ciclo seja pelos para jovens, há uns temas sérios e interessantes como aqueles de género e da religião, além disso, gosto muito do facto que a Le Guin nunca dá respostas superficiais ou banais, e preferivelmente não dá nenhuma resposta de modo algum. Gosto muito de umas ideias como o facto de que há uma "Língua Verdadeira" que é a língua da criação do mundo, e os magos têm de saber esta língua se querem fazer as magias. Uma das coisas interessantes desta língua é que não tem hiperónimos, e então se um mago quer dominar o mar, no puedes não pode somente pronunciar a palavra por para mar na língua verdadeira mas tem de conhecer o nome de todas as partes do mar, senão o que vai conseguir é dominar só as partes do mar que não têm um nome próprio. Também as pessoas têm dois nomes, o nome público para todos, e o nome verdadeiro que só as pessoas mais caras próximas conhecem, porque conhecer o nome verdadeiro significa ter poder sobre uma pessoa.
Creio que a ideia da língua da criação como muitas outras ideias, a Le Guin pegou-as de várias religiões. Por exemplo no segundo livro fala-se do Templo da ilha de Atuan, esse templo tem uma sacerdotisa que é escolhida porque crê-se ser a reencarnação da primeira sacerdotisa do templo, que é exatamente a maneira pela qual os budistas tibetanos escolhem o Dalai Lama. No livro fala-se também do Equilíbrio do mundo o qual os magos têm de levar em conta, que me parece ser muito perto dos ensinamentos taoistas. Além disso, há uma cerimónia que se faz aos 13 anos que marca a passagem para a idade adulta e na qual se recebe-se o nome verdadeiro, e isso é um pouco similar ao Bar Mitzvah judaico.
Do que gosto é também da variedade dos lugares que há no livro, onde cada ilha têm tradições próprias e maneiras de viver. Todavia acho que a Le Guin podía criar mais variedade línguistica em vez há ou pelos menos fala-se de três línguas e alguns dialetos, isso parece-me bastante estranho como a Le Guin sempre tem dito (disse?) ter uma grande paixão pelos idiomas e além disso é também criadora disso (em italiano temos a palavra glottoteta, há algo similar em português?). Apesar deste pequeno defeito, este ciclo de livros é muito bonito.
"Ciclo" normalmente usa-se mais para filmes. Para livros acho que seria mais indicado falar de um "colecção".
Não acho que acha algo similar em português para glottoteta...