Ciarán12 - 2020

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Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-15, 19:38

I'm going to take another shot at keeping some kind of record of at least some of my language-learning activities. I like Saim's technique of translating texts, I might do some of that, or simply take texts written in my target language and pull out specific words and phrases that are new to me.
I also saw Synalepha's stream of consciousness thread and agree that I also find it hard to stay consistent and I would probably do better to just accept that from the outset and make the objective of this log broader - it's essentially a notebook for saving snapshots of my activities, to whatever extent I see fit at the moment of updating it.

At the moment, the languages I'm focusing on are Portuguese and Irish. I intend to add Japanese to the mix at some point, but for now I've got my hands full with the other two.
Last edited by Ciarán12 on 2019-12-15, 20:40, edited 2 times in total.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-15, 19:55

This is a text from a post I just read on Facebook by a guy whose YouTube channel I follow (Canal do Pirula). The text is quite long, but I thought it was interesting and I was also surprised by the number of new words I found in the text (and here I was thinking I could speak Portuguese! :P). I've highlighted the words and expressions I either didn't know or hadn't encountered before, a glossary of them is appended to the end of the text.

Sobre imigração na França

Como todos devem saber, ganhei uma viagem à França em parceria com a escola de francês LSF, de Montpellier (sul da França) e de sua escola parceira IFALPES (de Annecy, nos alpes franceses). Esta oportunidade é para poucos e não poderia deixar de aproveitá-la, ainda que não tenha ganhado dinheiro algum, e de fato até tenha gastado, pois acabei viajando um bocado para gravar os vídeos de história da França.

Pois bem, passei uns dias em Paris, e vi como a situação se encontra, não muito diferente do que havia visto em 2013, quando fui à França pela primeira vez, durante meu doutorado, com ajuda dos inscritos na época. Mas algo me motivou a escrever este texto: comentários de uma página do Facebook (que não direi o nome), que concentra um grande número de brasileiros que moram na França. Estes comentários eram bastante depreciativos ao grande número de imigrantes presentes em Paris.

Os comentários eram quais? Que você pena para ver um parisiense em Paris, que é todo mundo imigrante. Obviamente, porque eles são distinguíveis com facilidade, uma vez que vêm, em sua maioria, de lugares do mundo onde o fenótipo é bastante evidente aos olhos: africanos, árabes, asiáticos. Nenhum deles possui traços típicos do norte da Europa, ainda que alguns árabes possuam olhos claros e algum grau de "loirice", e haja muitos imigrantes de países do leste europeu que mantêm os mesmos traços básicos dos franceses "clássicos". Os comentários nesta página concluíam que eles "sujaram" Paris, a tornaram uma cidade horrível e nada agradável. Que pegar o metrô é um tormento, pois só tem africano e árabe. E que as únicas coisas bonitas da cidade eram a Torre Eiffel, as igrejas, o Arco do Triunfo, etc., e que todo o resto era horrível por causa da presença dos imigrantes. Só faltou escrever "que nojo".
Escrevo este texto então para dar uma aulinha de história básica pra essas pessoas, e mostrar um pouco do que observei na Cidade Luz.

Ficamos eu e minha esposa em lugares distintos da cidade, aproveitando a disponibilidade mais barata de apartamentos do AirBNB. Como nem todos possuíam dias livres contínuos, foi necessário "se mudar" uma ou duas vezes. O primeiro apartamento ficava em Aubervilliers, no norte da cidade expandida. Nitidamente um bairro africano. 90%, chuto por baixo, das pessoas presentes lá eram africanas, negras retintas, não raro falando línguas africanas na rua, imagino que suaíli, baoulê, balanta, ewe, ou outra das dezenas de idiomas nativos dos países que hoje têm o francês como língua oficial. Chegamos a ver excursões escolares onde apenas o professor ou professora eram brancos, e todos os alunos, sem exceção, eram negros. Ou então, eram majoritariamente negros, com um ou outro asiático. Nenhum aluno branco.

Na segunda etapa, ficamos em um apartamento perto da praça da Bastilha. Agora a composição étnica mudara; muito mais brancos, alguns nitidamente não franceses, presumo que de algum país eslavo. Talvez Ucrânia ou Polônia. Porém, uma quantidade muito maior de franceses brancos. A praça da Bastilha fica mais perto do Sena, que é a área mais turística, imagino que seja um bairro mais nobre e antigo.

Minha impressões: de fato, os lugares que visitamos ou por onde passamos com maioria africana ou árabe eram lugares mais caóticos, com lojas espremidas, calçadas estreitas, muito lixo na rua, e cheiro de urina. A verdade é que vi muita gente urinando na rua na França, mas todos brancos. Se eram franceses ou não, não sei. Não digo que os imigrantes eram responsáveis pela sujeira ou urina (não tenho como saber), mas que o cheiro e a sujeira ficavam mais presentes nesses bairros, indicando que a limpeza era deficitária. Vi negras e latinas se prostituindo. Vi muitos moradores de rua, vários brancos, mas a maioria negros. De fato, uma área mais degradada, ligeiramente parecida com o centro de São Paulo ou do Rio de Janeiro, especialmente a parte das lojinhas apertadas, entrecortadas por restaurantes chineses e árabes, que lembravam uma Vinte e Cinco de Março bem mais vazia.
Já na área da Bastilha, vi calçadas espaçosas e arborizadas, prédios antigos, porém em ótimo estado de conservação, muito menos lixo e uma grande oferta de serviços. Bom, a típica diferença que existe em São Paulo entre bairros ricos e pobres. Nenhuma surpresa pra mim.

Daqui a pouco digo o que acho disso tudo, mas antes, vamos à aula de história.

A França foi um país colonialista. Na época das grandes navegações entrou na onda mercantil junto com Inglaterra, Portugal, Espanha e Holanda, pois o nível de endividamento e crescimento econômico destes países, bem como a demanda por produtos, impedia que as terra europeias dessem conta do recado. Igualmente, a Europa não dispunha de todos os produtos cobiçados. A França invadiu dezenas de lugares, como alguns pontos da África, Ásia (especialmente Índia), Caribe, boa parte da América do Norte (como os atuais Canadá e a parte do meio dos EUA), além de pontos na América do Sul, como a Guiana Francesa, e algumas cidades no Nordeste e Sudeste brasileiro. Em alguns lugares com reinos ou sistemas de estrutura social mais complexos, como na Guiné ou no Senegal, as relações foram, a princípio, comerciais, e que apenas depois viraram exploratórias e mais violentas. Aqui, sim, temos aquilo que o Narloch e outros revisionistas históricos ficam citando à exaustão, incluindo o nosso excrementíssimo presidente, de que "os próprios africanos escravizavam africanos", se esquecendo de citar que apenas esses reis, a princípio, se beneficiavam, e que a escravidão só virou industrial porque a demanda aumentou. O Filipe explicou a diferença da escravidão "tradicional" (por guerras ou dívida) que existia na África sub-saariana antes de os europeus chegarem e a escravidão do tráfico atlântico, que atingiu proporções homéricas, em um ritual abominável de atrocidades que deveria envergonhar qualquer ser humano, ainda mais sabendo que os escravizadores se diziam cristãos (https://xadrezverbal.com/2014/02/28/esc ... incorreta/)

E por que houve essa demanda? Porque outras áreas invadidas pela França não tiveram a mesma "sorte", e sua população nativa foi inteiramente (ou quase inteiramente) dizimada, para dar lugar a assentamentos loiríssimos, alvos de olho azul. Neles, quem trabalhava eram os escravos africanos, gerando matéria-prima agrícola e mineral (ouro e prata), em regimes de trabalhos forçados desumanos e que encurtavam sobremaneira a expectativa de vida deles, obrigando os franceses a comprar mais escravos, perpetuando o ciclo indefinidamente. Um exemplo típico desses casos foi o Haiti e outras ilhas do Caribe, como Guadaloupe e a Martinica.

Lá pelo século 19, com a revolução industrial, a necessidade de novos mercados e a busca incessante por matérias-primas levou a uma nova onda colonizatória pelo mundo, agora inclusive com mais uma potência, que de colônia explorada passou a exploradora: os Estados Unidos. Nessa etapa neo-colonialista (chamada de imperialista, onde se formaram os grandes "impérios mundiais"), lá pelo século 19, depois de Revolução Francesa e Napoleão, a França reapertou a mão de ferro sobre as ainda colônias, inclusive na África, e tratou de conquistar novos territórios, como toda a região do Maghreb (o norte do Saara) e boa parte da Polinésia. E isso já adentrando o século XX. Depois da Segunda Guerra, a França continuou ampliando seu império, sendo "responsável" também por parte da região do Oriente Médio, como Síria, Líbano. Ou seja, ONTEM.

Essas colônias eram basicamente um terreno de exploração infinita, onde a dominação era mantida na base da força e das armas. Minérios e recursos naturais foram drenados desses países, e seus povos, agora não mais escravizados, seguiam fazendo trabalhos forçados mediante pouquíssimo pagamento e com jornadas de trabalho desumanas. Outro ponto é que as divisões feitas pelos europeus, estabelecidas pelo Tratado de Berlin de 1885, eram baseadas em recursos naturais, e em caminhos fluviais, por onde os minérios escoavam de barco para a Europa. Isso significa que povos diferentes foram unidos e povos iguais foram separados por divisões aleatórias que não respeitavam limites étnicos, linguísticos ou culturais.

Quando o sistema econômico mundial mudou novamente, e o mundo polarizado pela Guerra Fria brigava por áreas de influência, diversas guerras de independência estouraram pelo mundo, especialmente na África, entre as décadas de 50 e 70 (pra vcs terem uma ideia, meu pai já tinha nascido, e na década de 70, já estava na faculdade, pra vocês verem como é recente). Argélia, Madagascar (e o Vietnã, que nem vou abordar aqui) tiveram movimentos de independência esmagados, com milhares de pessoas mortas. Isso só fortificou a sensação de nacionalismo (antes inédita) desses países. Na Argélia, as retaliações de grupos guerrilheiros armados fizeram com que muito da população francesa ali fosse morta ou aterrorizada. Esse conflito é complexo demais pra ser abordado em poucas linhas, mas o fato é que a Argélia estava em frangalhos quando finalmente conseguiu sua independência. Já as demais colônias, no geral, conseguiram a independência de forma mais pacífica. Algumas foram, em contrapartida, alçadas à condição de território francês ultramarino, como a Guiana Francesa, a Nova Caledônia e a Polinésia Francesa.

Mesmo aqueles países que ganharam a independência sem guerras sangrentas eram países espoliados. Suas instituições democráticas não funcionavam de forma independente direito, não tinham dinheiro algum; seus recursos haviam sido drenados e os conflitos internos começaram a estourar, derivados em geral da união artificial de povos e culturas. A corrupção sistêmica era derivada direta do modo exploratório como os europeus instalaram e conduziram sua dominação (inclusive, um pouco parecido com a forma como os portugueses fizeram com o Brasil). Um exemplo célebre é o da mistura de muçulmanos xiitas e sunitas em um mesmo país, como a França e Inglaterra fizeram na Síria e Iraque.
O pessoal da esquerda geralmente entende isso melhor, pela própria natureza da esquerda atual, mas pelo menos a direita liberal também entende (ou deveria entender) que a escravidão é a privação da propriedade privada mais inalienável que existe: o corpo do indivíduo. E que você invadir uma terra de alguém, declarar como sua na base da força e expoliar todos os seus recursos naturais é simplesmente ROUBO (muito mais do que imposto, como diriam os libertários). Não é de se surpreender a condição de penúria em que esses países ficaram depois disso.

Poucas décadas depois, chegamos à questão imigratória atual. Grandes comunidades de argelinos já viviam em território francês desde o fim da guerra, em 62. Depois do ano 2000, as ondas imigratórias aumentaram significativamente. Ainda hoje, a maior massa de imigrantes ou filhos e netos de imigrantes na França são do Maghreb: Argélia, Tunísia, Marrocos. Boa parte dessa imigração foi até estimulada pelo governo francês, porque a mão de obra estava escassa durante momentos de crise econômica, e posterior aquecimento. Com a Alemanha foi parecido.

Hoje a população de imigrantes na França perfaz em torno de 11% da população, isso sem contar filhos, netos e outros descendentes que, ao nascerem na França, adquirem a nacionalidade francesa. Ou seja, na prática, negros, árabes e asiáticos devem perfazer talvez perto de 20% da população do país. Muitos vão à França em busca de trabalho, ou de benefícios sociais como saúde e educação, coisa que não está disponível ou não tem qualidade em seus países de origem. É lamentável, mas não surpreendente e é até esperado (ainda que definitivamente não desejado) que boa parte do povo francês não imigrante nem descendente recrudesça seu fascismo frente a essa substituição demográfica. A espécie humana ainda é a mesma de 100 mil anos atrás.

PORÉM, o que as pessoas esquecem é que esses países como Argélia, Benin, ou Tunísia estão na merda hoje por responsabilidade DIRETA da França. Se hoje há guerras internas, é porque a França dividiu tudo de qualquer jeito. Se hoje há pobreza, é porque a França roubou muito deles, e não se preocupou em gerar mecanismos de auto-suficiência (lembre-se, os grandes movimentos de independências têm menos de 50 anos). E boa parte do fato de hoje a França dispor de muitos benefícios sociais, como saúde e educação de qualidade, derivam do fato de serem um país rico. E a França é rica basicamente porque explorou indiscriminadamente esses países colonizados, especialmente depois da Segunda Guerra. Se a França não tivesse detonado esses países, talvez hoje seus cidadãos não tivessem a necessidade de imigrar.

Um bom exemplo disso é a Guiana Francesa, que ainda é parte da França e, justamente por isso, possui um sistema de serviços que funciona muito melhor que do nas ex-colônias (ainda que longe de ser como na França), além de uma zona econômica ativa que gira em torno da estação espacial. A Guiana Francesa é tão francesa que há inclusive ondas de imigrantes brasileiros ilegais lá, mais ou menos (ainda que com menor intensidade) o que acontece com venezuelanos no sentido oposto. Olha só, o brasileiro com telhado de vidro tacando pedra no telhado dos outros (de novo). Óbvio que nem tudo são flores. A Guiana é cheia de pobreza e desemprego, e mesmo com o Euro como moeda há um altíssimo custo de vida. Mas ainda assim, tem o maior Produto Interno Bruto da América do Sul. Como a Guiana é mais gasto do que lucro, atualmente, ao contrário do que ocorria em 1960, a França quer mais é se livrar dela, algo que só não vale a pena por causa da Base Espacial e outros detalhes (é complexo, não dá pra resumir aqui). Mas apesar das insatisfações, o referendo feito recentemente em 2010 deixou clara a vontade do povo guianense de permanecer como parte da União Europeia.

Permitir que cidadãos das ex-colônias possam morar em território francês, país com o qual compartilham a língua, é o MÍNIMO que a França poderia fazer. E claro, muitos imigrantes de países que NÃO foram colonizados pela França aproveitaram para ir também (incluso brasileiros, olha só). Isso gera uma sobrecarga no sistema público de well-fair state? Claro que sim. Mas é parde do mecanismo. Também é inevitável que num cenário desse ocorra o chamado "parasitismo social": a pessoa abandona seu país onde não há serviço público algum, e o emprego é difícil, e vai para um país onde pode continuar sendo pobre, mas tem pelo menos saúde e educação. Acaba não contribuindo para girar a economia, mas onera o erário. São efeitos colaterais negativos, bem negativos. Mas ainda assim, não são problemas que vieram de Andrômeda. Retrocedendo apenas 50 anos, vemos que esse desequilíbrio todo que permite imigrantes de países não-francófonos e também de abuso do sistema público segue, em última análise, sendo culpa da França.

Agora vamos às minhas impressões. É triste ver áreas degradadas na França? Sim. É triste ver moradores de rua, sujeira, e locais amontoados e poluídos, prostituição e etc.? Muito triste. Não queria ver isso indo pra França. Eu consigo até entender a sensação de expectativa frustrada, de ir para um país achando que verá uma coisa, e ver outra. Se vou à China, sei o que espero ver. Se vou - por exemplo - à Inglaterra, e lá encontro a China (nem é o caso, só um exemplo), é uma quebra de expectativas com certeza. Mas poucos se atentam ao fato mais óbvio: a França MERECE isso. Simplesmente MERECE. E isso na verdade nem digo pensando em certo ou errado, digo pensando em causa e consequência. A fatura uma hora chegaria. Chegou.

Não tenho simpatia alguma pelo islã, e suas características usualmente (friso no usualmente, para não generalizar) machistas e homofóbicas. A meu ver são de uma barbárie que deveria ser inadmissível e repudiável por todos em pleno século 21. Quem acompanha o meu canal há muito tempo sabe da minha opinião. Sabemos também que o povo de países de terceiro mundo, subdesenvolvidos (novamente, sem generalizar), por questões históricas, não possui tanta preocupação com hábitos cívicos, como com limpeza pública, respeitar os pedestres, prezar pelo patrimônio público, etc. Alia-se isso ao fato de terem Estados desorganizados e serviços públicos exercidos de forma acoxambrada, que de forma alguma estimula essa preocupação cívica. E nada disso deveria surpreender um brasileiro. Ao chegar em um país rico, onde as pessoas tiveram acesso à educação de qualidade, onde há um histórico hereditário de estudo (pais e avós instruídos), com tudo limpinho e organizado (ou pelo menos, MAIS organizado), onde todos tiveram mais oportunidades, etc., pessoas de países pobres podem ter a sensação de conforto, e ao mesmo tempo de "não pertencimento". Um africano imigrante, ou mesmo seus filhos, sentem-se franceses? Ou serão sempre imigrantes? Se você não se sente pertencente a um país, você irá cuidar dele com o mesmo zelo? Ainda mais quando no seu próprio país de origem, ou descendência, isso não é estimulado? São perguntas a serem feitas. Vale lembrar também que o próprio Estado tem o hábito de cuidar mais de áreas onde há mais pessoas importantes ou ricas vivendo, e abandonar ou cuidar menos de regiões com moradores menos “nobres”. Novamente, nada diferente de São Paulo. Isso significa que é inevitável que áreas com muitos imigrantes ou cidadãos de “segunda classe” fiquem mais esquecidas pelo Estado, algo que não aconteceria se o subúrbio fosse de classe média.

A França, ao longo dos último anos, foi trocando a sua política de assimilação por uma de integração. A política de assimilação envolve aculturar o imigrante ao país de origem, incluindo costumes. A de integração apenas tenta garantir que ele entenda o funcionamento das leis e que consiga arrumar emprego e viver bem. Eu confesso que tenho certa ambiguidade de sentimentos sobre isso. Ainda que eu entenda que o segundo respeita mais as liberdades individuais, o que é fundamental no mundo civilizado que tanto lutamos para construir, há de se lembrar que em muitos lugares essas liberdades culturais incluem maridos que escravizam as próprias esposas, as deixam em cárcere privado, ou mesmo fazem mutilação genital, bem como punições (ainda que secretamente) à apostasia, etc. Penso que talvez seja realmente um retrocesso social criar mecanismos nos quais esses comportamentos não sejam coibidos. Talvez a França tenha "afrouxado" demais sua política de como os imigrantes são recebidos? Talvez.

Mas voltemos aos brasileiros reclamando dos "pretos e árabes" no metrô, como se estivessem sujando a cidade com sua mera presença. Escute, meu caro racista escroto: VOCÊ é um imigrante, caso não perceba, seu imbecil. Aos olhos de um francês nacionalista e neo-fascista, um brasileiro vale tanto quanto um marfinense, ou sírio. Salvo se você for um brasileiro 100% descendente de alemães ou italianos (olha só, que foram IMIGRANTES no Brasil), você é algum tipo de mistura étnica que enojaria um eleitor da Marine le Pen. A diferença é que você, brasileiro imigrante, ao achar que negros e árabes "sujam" Paris, se torna o nazista de Estocolmo. É alguém que compartilha o pensamento daqueles que o usam contra você mesmo. Além de um racista de merda, você é burro.

Pense consigo mesmo se você não é aquele tipo de pessoa que na França respeita o pedestre, não joga lixo no chão, admira a "alta cultura" indo a museus e teatros, mas que no Brasil furava o farol vermelho, sujava a cidade, nunca pisou num teatro e até comemorou a queima do Museu Nacional, já que a UFRJ era dirigida por um "esquerdista". Se for assim, além de um racista de merda burro, é também um hipócrita. O lixo da humanidade. A escória.

Como disse, é triste que partes da França, especialmente de Paris, estejam degradadas. Talvez a França tenha tomado atitudes não totalmente adequadas nas políticas imigratórias dos últimos anos. Não em aceitar os imigrantes (em que a França não faz mais do que a obrigação), mas talvez, na forma como isso tenha sido feito. Contudo, como disse, sob todos os aspectos, a França MERECE. Isso vai dar ruim no futuro? Pode ser, afinal, humanos tem um talento único de, tentando corrigir algo ruim, conseguir gerar algo pior. A Alemanha mereceu os termos do Tratado de Versalhes? Talvez sim. Mas a consequência disso foi o terreno pra subir o tio do bigodinho. Mas neste caso atual, dando ruim ou não, não muda o fato de que a França merece. Inclusive, TÁ POUCO.

E você, imigrante brasileiro na França que reclama dos imigrantes, sem perceber a incongruência disso, deveria se olhar no espelho com mais frequência. Nessas horas, até sinto um pouco de alívio de saber que você está mais longe de mim, em outro continente, ainda que seja perto demais. Deveria estar em Marte. Ao mesmo tempo, sinto raiva de dividir a nacionalidade com uma pessoa asquerosa como você, que me faz querer deixar de ser brasileiro e quem sabe - olha só - imigrar. E lamento também por todos os imigrantes africanos e árabes franceses, que são obrigados a dividir o metrô com lixos iguais vocês.


Glossary of terms:

Negras retintas - jetblack (preto retinto)
Espremido - pressed, expressed (here it means "squeesed in, small")
Deficitário - deficient (it was obvious what it meant, but I don't think I'd have know to say it this way if I'd wanted to express the idea myself)
Arborizado - tree-laden
Dessem conta do recado - to be able to manage to do something
À exaustão - to exhaustion (again, obvious but not what I'd have said)
Excrementíssimo - from "excremento" - "excrement", I didn't know you could use it as an adjective like this though.
Assentamento - here it means "settlment"
Sobremaneira - exceptionally, very much
Escoar - to slip away (also, in other contexts, to leak)
Expoliar - to plunder, pillage
Penúria - destitution, penury (I had actually learned this word, but I'd forgotten it)
Perfazer - here means "to make up, compose, amount to"
Recrudescer - to recrudesce (apparently), to break out again, reignite, reintensify
Onerar - to burden, overtax, oppress
Erário - (public) purse, exchequer
Frisar - here it means "to emphasise"
Repudiável - reprehensible
Prezar - to prize, value ( I knew this, but I don't use it enough, so I'm putting it here to remind me to use it more)
Acoxambrado - nearest translation might be "haphazardly". Definition here.
Zelo - zeal (obvious, but I probably wouldn't have know to say it)
Cárcere - jail
Retrocesso social - social regression

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-16, 18:44

Very good! I learned the word 'jetblack'.

Ciarán12 wrote:Excrementíssimo - from "excremento" - "excrement", I didn't know you could use it as an adjective like this though.

This is actually a pun with 'excelentíssimo', the formal way to address a president.

Ciarán12 wrote:Assentamento - here it means "settlment"

I don't know of other meanings. :hmm:
2017 est l'année du (fr) et de l'(de) pour moi. Parle avec moi en eux, s'il te plait.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-16, 22:10

Osias wrote:
Ciarán12 wrote:Excrementíssimo - from "excremento" - "excrement", I didn't know you could use it as an adjective like this though.


This is actually a pun with 'excelentíssimo', the formal way to address a president.


Oh, I didn't get that, thanks!

Osias wrote:
Ciarán12 wrote:Assentamento - here it means "settlment"

I don't know of other meanings. :hmm:


O meu dicionário dá o seguinte:

assentamento
n. [asẽtam'ẽtu] sm
1 a seating, sitting down.
2 a putting into place.
3 entry, recording, registry, enrollment.
4 foundation, base.
5 agreement, settlement.
assentamento de casas homes built on the same groundplot.
assentamento de tijolos bricklaying.
assentamento de trabalhadores rurais sem terra
settlement of landless agricultural laborers.
assentamento de trilhos tracklaying.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-16, 22:15

A única opção que já vi e que não me soa estranha é assentamento de tijolos. O 3 é difícil acreditar que seja usado assim. E assentamento do sem terra é settlement.
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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-16, 22:33

Interessante. O meu dicionário tem vários verbetes sobre a palavra "assentamento" (é um app, e imagino que cada verbete vem de uma fonte diferente originalmente), mas a definição até mais comúm é exatamente "register, enrollment" :hmm:
Talvez eu deva procurar um novo dicionário...

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-17, 0:31

Talvez Portugal, né?
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Ciarán12

Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-17, 8:38

Pode ser! Por isso que eu sempre pergunto pros nativos, obrigado!

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Saim » 2019-12-17, 9:32

Em asturleonês „sobremanera” quere dizer „sobretudo”. Não sabia que existe em português também com uma significação parecida.

N’asturlleonés „sobremanera” quier dicir otra cosa. Nun sabía qu’esiste en pertués tamién con un significáu asemeyáu.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-17, 16:33

Saim wrote:Em asturleonês „sobremanera” quere dizer „sobretudo”. Não sabia que existe em português também com uma significação parecida.


É, mais um falso cognato. Imagino que a tradução mais adecuada para ambas as palavras em inglês seria "especially".

Saim wrote:[...] en pertués [..].]


Não sei porque, mas eu amo isso! :P A língua que se fala aqui pertu! Kkk

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-17, 21:49

Acabei de fazer uma entrevista pra um podcast em português, se ficar bom no final talvez eu for postar aqui o resultado :lol:

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-18, 1:51

Eita!
2017 est l'année du (fr) et de l'(de) pour moi. Parle avec moi en eux, s'il te plait.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-18, 19:26

Bom, quero que vocês saibam que eu sei muito bem quais foram os meus erros*, basta dizer que eu não devo ter bebido tanto pra "preparar" pro podcast... mas é o que é:

https://open.spotify.com/episode/1lvFK8 ... oLd_wLwrZw

Mais um link aqui (se o de encima não funcionar):

https://www.buzzsprout.com/729698

*principalmente a concordância (tanto do adjetivo com o substantivo como verbal), o jeito que eu formulei as frases (pouco natural), e acho que eu disse "siglo" em vez de "século" em uma parte. E além disso, não expliquei nada muito bem, o que não tem nada a ver com o meu português e tudo a ver com ser idiota bêbado kkk
Last edited by Ciarán12 on 2019-12-18, 19:34, edited 1 time in total.

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-19, 0:04

Ciarán12 wrote:Bom, quero que vocês saibam que eu sei muito bem quais foram os meus erros*, basta dizer que eu não devia ter bebido tanto pra "preparar" pro podcast... mas é o que é:

https://open.spotify.com/episode/1lvFK8 ... oLd_wLwrZw

Mais um link aqui (se o de encima não funcionar):

https://www.buzzsprout.com/729698

*principalmente a concordância (tanto do adjetivo com o substantivo como verbal), o jeito que eu formulei as frases (pouco natural), e acho que eu disse "siglo" em vez de "século" em uma parte. E além disso, não expliquei nada muito bem, o que não tem nada a ver com o meu português e tudo a ver com ser idiota bêbado kkk
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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-19, 0:25

Sempre tive dificultades com estas expressões, vou colocar um link aqui que eu achei só agora pra não esquecer:
Explicação de 'acima', 'encima', 'de cima' etc....

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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Osias » 2019-12-19, 0:28

Tô no minuto 22 e até agora tá dando pra entender e os erros são mínimos. Seu português é beeeem superior ao do Glenn Greenwald, por exemplo, que mora no Brasil há milênios.
2017 est l'année du (fr) et de l'(de) pour moi. Parle avec moi en eux, s'il te plait.

Ciarán12

Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-19, 14:49

Ótimo, obrigado! Eu ouvi o Glenn falar em português uma vez só, não sei como é a gramática ou vocabulário dele, mas percebi que ele tem um sotaque bem pesado.

vijayjohn
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Re: Ciarán12 - 2020

Postby vijayjohn » 2019-12-29, 7:09

So what are you doing for Irish? :lol:

Ciarán12

Re: Ciarán12 - 2020

Postby Ciarán12 » 2019-12-29, 15:23

vijayjohn wrote:So what are you doing for Irish? :lol:


Actually, I translated an article from Irish to English and Portuguese and glossed all the new terms, but I want to go over the translation once more as I'm not sure about one part. I'll probably post it tomorrow :)

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Saim
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Re: Ciarán12 - 2020

Postby Saim » 2019-12-30, 6:39

Acabei de escutar o podcast, muito interessante, foi um prazer ouvi-lo falando português. :D E aprendi a palavra vira-lata.

Não sabia que “whisky” vem da palavra “água” em irlandês. “Vodka” tem uma etimologia parecida, nas línguas eslavas água é “voda” (“woda” na ortografia polonesa, não têm “v”). (Quando você vai aprender polonês, por certo? :P )

Ciarán12 wrote:
Saim wrote:[...] en pertués [..].]


Não sei porque, mas eu amo isso! :P A língua que se fala aqui pertu! Kkk


A min tamién me presta, ye divertío, y ye de los pocos nomes de países/llingües que son diferentes del castellán. El país ye Pertual.

Dempués de buscalo na Wikipedia asturiana paez que esta forma ye propia del mirandés y l’asturlleonés occidental, pero magar que fale asturianu central voi siguir diciéndolo porque me presta. :lol:


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